domingo, 6 de fevereiro de 2011

PLANETA VERDE: DNA por 5 reais

Como uma técnica rápida e barata de análise genética está ajudando a indentificar milhões de espécies de seres vivos

Os biólogos calculam que existam entre 10 milhões e 100 milhões de espécies de seres vivos na Terra. Mas só 2 milhões delas já foram identifi cadas. As outras permanecem desconhecidas para a ciência. Um inventário mais completo é necessário para gerenciar
tanto sua preservação quanto o uso sustentável das espécies pelo ser humano — em produtos que vão de cremes de beleza a medicamentos. Mas identifi car milhões de animais, vegetais e micro-organismos apenas observando sua morfologia é uma tarefa hercúlea. Por isso, cientistas de vários países, incluindo o Brasil, desenvolvem tecnologias para diferenciar e catalogar as espécies com mais rapidez. A mais bem-sucedida delas é conhecida como DNA barcoding — a leitura do “código de barras” presente no DNA dos seres vivos. Ela permite identificar um ser vivo a um custo de apenas 5 reais por amostra analisada.

A ideia por trás do DNA barcoding é decifrar apenas uma pequena parte da cadeia de DNA. Um laboratório bem equipado pode fazer isso em poucas horas. Basta que receba uma amostra de tecido daquele ser vivo — como uma folha de planta. A sequência obtida é, então, comparada com outras armazenadas em bancos de dados. Assim, é possível saber se a amostra analisada pertence a um ser vivo já conhecido ou não. Para que isso funcione, é preciso escolher sempre o mesmo trecho de DNA, em todas as amostras. Para a identificação de animais, por exemplo, usa-se uma sequência de DNA de uma mitocôndria, um dos corpúsculos existentes nas células. Há também trechos de DNA padronizados para identificar plantas e outros seres vivos.



BIBLIOTECA DE CÓDIGOS
A técnica do DNA barcoding foi apresentada em 2003 pelo grupo do cientista Paul Herbert, da Universidade de Guelph, no Canadá. Somente nos últimos anos, porém, ela ganhou a adesão de pesquisadores ao redor do mundo. Hoje, 25 países, incluindo o Brasil, participam de um consórcio que tem a meta de cadastrar 500 000 espécies até 2015. No Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) investiu 5 milhões de reais em estudos na área nos ultimo’s dois anos. Por aqui, o problema é que os cientistas ainda levam muito tempo na bancada do laboratório realizando o processo. Em outros países, usam-se métodos mais automatizados. “Uma vantagem dessa técnica é opreço de cerca de 5 reais por indivíduo apenas”, diz o biólogo australiano William Ernest Magnusson, coordenador do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) na Amazônia Ocidental. No futuro, o uso da técnica poderá ajudar a combater a biopirataria e o tráfico de animais silvestres. Mas essa não é a prioridade.

“Nosso maior problema é a falta de conhecimento sobre a biodiversidade”, afirma Magnusson, que vive há 30 anos na Amazônia. O problema não é só brasileiro. “Se você não pode medir, não consegue gerenciar”, diz John Chenery, diretor de comunicações do International Barcode of Life (iBOL), no Canadá. O iBOL funciona como uma biblioteca dos códigos de barra de DNA. São códigos como o que aparece nesta página, da piranha Pygocentrus piraya, que habita rios como o São Francisco e o Amazonas. Armazenar os dados de cada espécie também é importante para os estudos futuros.
“Estamos no meio de um grande período de extinção. Talvez 50 000 espécies estejam desaparecendo todos os anos”, diz Chenery. 

ROBÔ SUBMARINO 
O DNA BARCODING não elimina o uso de técnicas mais tradicionais de toxonomia. Em
muitas situações, a melhor maneira de identificar espécies ainda é observar suas características morfológicas.


Fonte:Renata Leal, Revista Info Exame