sábado, 9 de junho de 2012

RECURSOS NATURAIS: Os bons frutos da economia verde

O camarão que vira remédio. A bromélia que vira autopeça. O peixe que vira roupa. Ao conciliar produção e biodiversidade, o Brasil tem excelentes exemplos a dar na Rio+20


Os conceitos de uma economia verde, urgentes para viabilizar a sustentabilidade no século 21, ainda estão em aberto. Tanto que a discussão dos princípios desse segmento é um dos temas centrais da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. É frágil o consenso na urgência de o mundo mudar; de empresas e governos incorporarem critérios de conservação e justiça social à economia formal; de se promover formas de organização e inovações tecnológicas capazes de reduzir a produção de resíduos, zerar emissões, impulsionar a eficiência energética e racionalizar o uso dos recursos naturais. 
Ainda assim, são numerosas as maneiras de traduzir isso tudo em um só modelo de sucesso. Artesanato e extrativismo são boas vitrines, mas não bastam. A economia verde pede bases mais amplas, sólidas, inteligentes e inovadoras. Deve ir além dos subsídios oficiais e quebrar tabus, inclusive os do movimento ambientalista. 

Um bom caminho é unir ciência e empreendedorismo - como fez a família Craveiro no Nordeste do Brasil. O pai, o químico Afrânio Aragão Craveiro, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), recebeu em 1988 um pedido do maior produtor regional de camarão para pesquisar uma solução para seus resíduos de processamento - montanhas malcheirosas de casca e cabeça do crustáceo. Sem receio de lidar com uma indústria considerada suja por seu histórico, Afrânio Craveiro apostou firme no princípio da reciclagem: a melhor maneira de eliminar resíduos é transformá-los em matéria-prima. 


Na verdade, ele inventou a matéria-prima para depois criar a indústria que a utilizaria. Lançou mão de sua ciência para descobrir a serventia de um polímero natural chamado quitina, presente na carapaça do camarão e de outros crustáceos, como lagosta, siri e caranguejo, cuja principal característica é aglutinar e absorver gorduras e óleos. Com base na quitina, o químico desenvolveu a quitosana, usada no combate à obesidade e ao colesterol alto. Chegou a comercializar 1 milhão de cápsulas no primeiro ano, fabricadas em uma empresa incubada no Parque de Desenvolvimento Tecnológico (Padetec), da UFC, dirigido por ele. Em seguida, Craveiro teve a ideia de atacar os vazamentos de petróleo. Para tanto, criou microesferas de quitosana. Pulverizadas sobre o poluente, derramado em águas doces ou salgadas, elas formam aglomerados fáceis de recolher, tornando a limpeza mais eficiente. 

O produto, que rendeu um prêmio da Petrobras e três patentes, agora está em fase de testes de campo, já com melhorias incorporadas graças à nanotecnologia. Dentro das microesferas de quitosana, o pesquisador conseguiu inocular bactérias capazes de degradar o petróleo. Assim, ao lançar as novas microesferas em um vazamento, enquanto a quitosana aglutina o óleo, as bactérias já tratam de digerir tudo. O processo de limpeza ambiental se acelera e ameniza as dificuldades com a destinação do petróleo recolhido. Com base no mesmo raciocínio, o projeto da vez é uma membrana de quitosana para filtragem da água e purificação de efluentes industriais, com a possibilidade de absorver gorduras, proteínas, pesticidas e metais pesados.

Fonte: Liana John, National Geographic Brasil